O POEMA INFINITO...
UM DIA, EM MEIO À GUERRA MUNDIAL, UM SOLDADO FERIDO DE UM FERIMENTO FATAL, SUSSURROU ESTAS PALAVRAS EM MEUS OUVIDOS:
Nossos donos temporais ainda não devassaram
o claro estoque de manhãs
que cada um traz no sangue, no vento.
Passarei a vida entoando uma flor, pois não sei cantar...
Escultura de ar, minhas mãos
te modelam nua e abstrata
para o homem que não serei.
...Só a nós mesmos podemos gerar...
Dissolvendo a cortina de palavras,
tua forma abrange a terra e se desata
à maneira do frio, da chuva, do calor e das lágrimas.
Fende os ares e arrebata
esse que é forma pura e que é suspiro
de terrenas delícias combinadas;
...pelas noturnas portas de pérola dúbia das boates;
(que o pecado cristão, ora jungido
ao mistério pagão, mais o alanceia)
Eu que não me sabia
e cansado de mim julgava que era o mundo
um vácuo atormentado, um sistema de erros.
Amanhecem de novo as antigas manhãs
que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.
O sumo se espremeu para fazer um vinho
ou foi sangue, talvez, que se armou em coágulo.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.
amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes...
os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
e o mistério que além faz os seres preciosos
à visão extasiada.
Um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Para fora do tempo arrasto meus despojos...
A terra
anda morrendo sempre.
A todos como a tudo
estamos presos
É sonho, sonho. Ilhados,
pendentes, circunstantes,
na fome e na procura
de um eu imaginário
e que, sendo outro, aplaque
todo este ser em ser,
adoramos aquilo
que é nossa perda. E morte
e evasão e vigília
e negação do ser
com dissolver-se em outro...
Simples criatura
exposta aos ventos da cidade.
Curvo e desgarrado
na caótica noite urbana
E corre com pés de lã
na conspiração da madrugada
sem nas pupilas, flor ou vaso
sob a luz fraca, na sombra esculpida
ou depois da morte, nas campinas do ar
Dádiva de corpo na tarde cristã
Como se a cidade não servisse o seu pão
de nuvens
As casas inda restam,
os amores, mais não.
Toda história é remorso...
Sobre o tempo, sobre a taipa
a chuva escorre. As paredes
que viram morrer os homens.
Como a renda consumida
de um vestido funerário,
só a chuva monorrítmica
sobre a noite, sobre a história...
É tempo de fatigar-se a matéria
O chão começa a chamar
as formas estruturadas
O fino dardo da chuva
mineira sobre as colinas!
As velhas casas honradas
em que se amou e pariu.
Não basta ver morte de homem
para conhecê-la bem.
Uma colcha de neblina
me conta por que mistério
o amor se banha na morte.
Ai, preto, que ris em mim,
com saudade das ambacas
que nunca vi, e aonde fui
num cabelo de sovaco.
Numa visguenta doçura
de vulva negro-amaranto
tu me despertavas, linha
que subindo pelo artelho,
enovelando-se no joelho,
dava ao mistério das coxas
uma ardente pulcritude,
um coalho fixo lunar,
neste amarelo descor
das posses de todo dia
definitivas eternas
coisas bem antes dos homens.
Diante da viração
perfumada dos cafezais q trança na palma dos coqueiros
q dormem a paz de Deus entre santas e santos martirizados.
Há de ser violento
sem ter movimento.
Sofrerá tormenta
no melhor momento.
Não se sujeitando
a um poder celeste
ei-lo senão quando
de nudez se veste,
roga à escuridão
abrir-se em clarão.
Este será tonto
e amará no vinho
um novo equilíbrio
e seu passo tíbio
sairá na cola
de nenhum caminho.
Vai fazer tanta besteira
e dar tanto desgosto
que nem a vida inteira
dava para contar.
E vai muito chorar.
(A praga que te rogo
para teu bem será.)
E a vaca Beliza dará leite no curral vazio para o menino doentio,
e o menino crescerá sombrio, e os antepassados no cemitério
se rirão porque os mortos não choram.
Os parente que eu amos expiraram solteiros.
Os parentes que eu tenho não circulam em mim.
Meu sangue é dos que não negociaram, minha alma é dos pretos,
minha carne, dos palhaços, minha fome, das nuvens,
e não tenho outro amor a não ser o dos doidos.
És nosso fim natural e somos teu adubo,
tua explicação e tua mais singela virtude...
E já não enfrentamos a morte, de sempre trazê-la conosco
A mais tênue forma exterior nos atinge.
O próximo existe. O pássaro existe.
E nossa existência,
apenas uma forma impura de silêncio, que preferiram
Então no mesmo esquecimento se fundirão.
E lagoas de sono selam em seu negrume o que amamos e fomos um dia...
Eu em face do espelho,
e o espelho devolvendo
uma diversa imagem,
mas sempre evocativa
do primeiro retrato
que compõe de si mesma
a alma predestinada
a um tipo de aventura
terrestre, cotidiana.
A razão sem razão
de me inclinar aflito
sobre restos de restos,
de onde nenhum alento
vem refrescar a febre
deste repensamento;
sobre esse chão de ruínas
imóveis, militares
na sua rigidez
que o orvalho matutino
já não banha ou conforta.
Amar, depois de perder.
Sabendo que toda carne
aspira à degradação,
mas numa via de fogo
e sob um arco sexual...
Amou. E ama. E amará.
Só não quer que seu amor
seja um aprisão de dois,
um contrato, entre bocejos
e quatro pés de chinelo.
O pasto inédito
da natureza mítica das coisas,
noturno e miserável...
Essa total explicação da vida,
esse nexo primeiro e singular.
Monumentos erguidos à verdade;
e a memória dos deuses, e o solene
sentimento de morte, que floresce
no caule da existência mais gloriosa...
À sua casa cinzenta
chega, coberto de pó.
Deixou lá fora o que havia
capaz de inspirar-lhe dó.
Há na roupa uma presença
um elo qualquer, um nó,
que ao sozinho de nascença
faz menos só.
...Onde busque nossa paixão
libertar-se por todo lado...
...nem o arminho nem a carne concentram a beleza definitiva e fluida.
...entre calmos
sonos de posse te fruem
tal o morto aos sete palmos.
...E colhe de rama em rama
toda cantiga de pássaro.
É doce, ficar na cama.
E, não me levando à rosa
de um impossível jardim
(flor a mais deliciosa
mas que não é para mim)
Talvez porque me faltasse água corrente,
hoje a tenho repesada nos olhos
O sentimento do universo
contido em simples escultura
Ó na sombra consoladora de todo o sal dos olhos,
Faze-nos de novo crianças e leva-nos a brincar
nos jardins do céu com teu filhinho de ouro.
Caminhávamos através da lua
boiávamos em luar
Estávamos mortos e não sabíamos,
sepultados, andando, nas criptas do luar.
No jardim da velha praça,
o grupo, disposto em leque...
Não sou leitor do mundo nem espelho
de figuras que amam refletir-se
no outro à alta de retrato interior.
Sou o Velho Cansado
submisso o vão comércio da palavra.
...que este tempo a mim distribuído
cai do ramo e azuleja o chão varrido.
Sinto estátuas futuras se moldando
sem precisão de mim
que quando jovem
nunca pulei muro de jardim
para exigir do morador tranquilo
a canonização do meu estilo.
Respeitem a fera. Triste, sem presas, é fera.
Na jaula do mundo passeia a pata aplastante...
Não quero oferecer minha cara como verônica nas revistas.
Quero de mim a sentença
como, até o fim, o desgaste
de suportar o meu rosto.
Poesia, morte secreta.
E esse cavalo solto pela cama,
a passear o peito de quem ama.
Nossos donos temporais ainda não devassaram
o claro estoque de manhãs
que cada um traz no sangue, no vento.
Passarei a vida entoando uma flor, pois não sei cantar...
Escultura de ar, minhas mãos
te modelam nua e abstrata
para o homem que não serei.
...Só a nós mesmos podemos gerar...
Dissolvendo a cortina de palavras,
tua forma abrange a terra e se desata
à maneira do frio, da chuva, do calor e das lágrimas.
Fende os ares e arrebata
esse que é forma pura e que é suspiro
de terrenas delícias combinadas;
...pelas noturnas portas de pérola dúbia das boates;
(que o pecado cristão, ora jungido
ao mistério pagão, mais o alanceia)
Eu que não me sabia
e cansado de mim julgava que era o mundo
um vácuo atormentado, um sistema de erros.
Amanhecem de novo as antigas manhãs
que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.
O sumo se espremeu para fazer um vinho
ou foi sangue, talvez, que se armou em coágulo.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.
amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes...
os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
e o mistério que além faz os seres preciosos
à visão extasiada.
Um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Para fora do tempo arrasto meus despojos...
A terra
anda morrendo sempre.
A todos como a tudo
estamos presos
É sonho, sonho. Ilhados,
pendentes, circunstantes,
na fome e na procura
de um eu imaginário
e que, sendo outro, aplaque
todo este ser em ser,
adoramos aquilo
que é nossa perda. E morte
e evasão e vigília
e negação do ser
com dissolver-se em outro...
Simples criatura
exposta aos ventos da cidade.
Curvo e desgarrado
na caótica noite urbana
E corre com pés de lã
na conspiração da madrugada
sem nas pupilas, flor ou vaso
sob a luz fraca, na sombra esculpida
ou depois da morte, nas campinas do ar
Dádiva de corpo na tarde cristã
Como se a cidade não servisse o seu pão
de nuvens
As casas inda restam,
os amores, mais não.
Toda história é remorso...
Sobre o tempo, sobre a taipa
a chuva escorre. As paredes
que viram morrer os homens.
Como a renda consumida
de um vestido funerário,
só a chuva monorrítmica
sobre a noite, sobre a história...
É tempo de fatigar-se a matéria
O chão começa a chamar
as formas estruturadas
O fino dardo da chuva
mineira sobre as colinas!
As velhas casas honradas
em que se amou e pariu.
Não basta ver morte de homem
para conhecê-la bem.
Uma colcha de neblina
me conta por que mistério
o amor se banha na morte.
Ai, preto, que ris em mim,
com saudade das ambacas
que nunca vi, e aonde fui
num cabelo de sovaco.
Numa visguenta doçura
de vulva negro-amaranto
tu me despertavas, linha
que subindo pelo artelho,
enovelando-se no joelho,
dava ao mistério das coxas
uma ardente pulcritude,
um coalho fixo lunar,
neste amarelo descor
das posses de todo dia
definitivas eternas
coisas bem antes dos homens.
Diante da viração
perfumada dos cafezais q trança na palma dos coqueiros
q dormem a paz de Deus entre santas e santos martirizados.
Há de ser violento
sem ter movimento.
Sofrerá tormenta
no melhor momento.
Não se sujeitando
a um poder celeste
ei-lo senão quando
de nudez se veste,
roga à escuridão
abrir-se em clarão.
Este será tonto
e amará no vinho
um novo equilíbrio
e seu passo tíbio
sairá na cola
de nenhum caminho.
Vai fazer tanta besteira
e dar tanto desgosto
que nem a vida inteira
dava para contar.
E vai muito chorar.
(A praga que te rogo
para teu bem será.)
E a vaca Beliza dará leite no curral vazio para o menino doentio,
e o menino crescerá sombrio, e os antepassados no cemitério
se rirão porque os mortos não choram.
Os parente que eu amos expiraram solteiros.
Os parentes que eu tenho não circulam em mim.
Meu sangue é dos que não negociaram, minha alma é dos pretos,
minha carne, dos palhaços, minha fome, das nuvens,
e não tenho outro amor a não ser o dos doidos.
És nosso fim natural e somos teu adubo,
tua explicação e tua mais singela virtude...
E já não enfrentamos a morte, de sempre trazê-la conosco
A mais tênue forma exterior nos atinge.
O próximo existe. O pássaro existe.
E nossa existência,
apenas uma forma impura de silêncio, que preferiram
Então no mesmo esquecimento se fundirão.
E lagoas de sono selam em seu negrume o que amamos e fomos um dia...
Eu em face do espelho,
e o espelho devolvendo
uma diversa imagem,
mas sempre evocativa
do primeiro retrato
que compõe de si mesma
a alma predestinada
a um tipo de aventura
terrestre, cotidiana.
A razão sem razão
de me inclinar aflito
sobre restos de restos,
de onde nenhum alento
vem refrescar a febre
deste repensamento;
sobre esse chão de ruínas
imóveis, militares
na sua rigidez
que o orvalho matutino
já não banha ou conforta.
Amar, depois de perder.
Sabendo que toda carne
aspira à degradação,
mas numa via de fogo
e sob um arco sexual...
Amou. E ama. E amará.
Só não quer que seu amor
seja um aprisão de dois,
um contrato, entre bocejos
e quatro pés de chinelo.
O pasto inédito
da natureza mítica das coisas,
noturno e miserável...
Essa total explicação da vida,
esse nexo primeiro e singular.
Monumentos erguidos à verdade;
e a memória dos deuses, e o solene
sentimento de morte, que floresce
no caule da existência mais gloriosa...
À sua casa cinzenta
chega, coberto de pó.
Deixou lá fora o que havia
capaz de inspirar-lhe dó.
Há na roupa uma presença
um elo qualquer, um nó,
que ao sozinho de nascença
faz menos só.
...Onde busque nossa paixão
libertar-se por todo lado...
...nem o arminho nem a carne concentram a beleza definitiva e fluida.
...entre calmos
sonos de posse te fruem
tal o morto aos sete palmos.
...E colhe de rama em rama
toda cantiga de pássaro.
É doce, ficar na cama.
E, não me levando à rosa
de um impossível jardim
(flor a mais deliciosa
mas que não é para mim)
Talvez porque me faltasse água corrente,
hoje a tenho repesada nos olhos
O sentimento do universo
contido em simples escultura
Ó na sombra consoladora de todo o sal dos olhos,
Faze-nos de novo crianças e leva-nos a brincar
nos jardins do céu com teu filhinho de ouro.
Caminhávamos através da lua
boiávamos em luar
Estávamos mortos e não sabíamos,
sepultados, andando, nas criptas do luar.
No jardim da velha praça,
o grupo, disposto em leque...
Não sou leitor do mundo nem espelho
de figuras que amam refletir-se
no outro à alta de retrato interior.
Sou o Velho Cansado
submisso o vão comércio da palavra.
...que este tempo a mim distribuído
cai do ramo e azuleja o chão varrido.
Sinto estátuas futuras se moldando
sem precisão de mim
que quando jovem
nunca pulei muro de jardim
para exigir do morador tranquilo
a canonização do meu estilo.
Respeitem a fera. Triste, sem presas, é fera.
Na jaula do mundo passeia a pata aplastante...
Não quero oferecer minha cara como verônica nas revistas.
Quero de mim a sentença
como, até o fim, o desgaste
de suportar o meu rosto.
Poesia, morte secreta.
E esse cavalo solto pela cama,
a passear o peito de quem ama.
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